quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Amores Distantes

Se pudessémos medir em distância física, estaríamos tão próximos como cem metros ou cem mil quilômetros, porque depois que nos fizemos longe do olhar e da voz, todas as distâncias são iguais.

Não importa aos que se amam todas ou as maiores distâncias. É estar ou não estar. As outras graduações inexistem. Da mesma forma, assim como existem medidas diversas do mesmo tempo, também existem conceitos antagônicos da mesma ausência: são dimensões variadas de um espaço -falta, como se conhecêssemos muitas diferenciações a um só tema.

O tempo da distância é lento e moroso. Quase estático. Quando estávamos juntos, quando presente em minha vida, sempre foi tão veloz que não se escoava ou voava, simplesmente desaparecia.

Os conceitos para mim ou são lembranças ou são distâncias. Uma coisa é desaparecer, sumir. Outra se distanciar. Lembranças, ainda que boas, são quase sombras do que já foi. Mas no nosso caso não foram sumidas pelo tempo.

Parece-me que foi ontem o 1967, quando tudo começou... Estava hospedado em um hotel na Avenida Rio Branco, 228, em Santa Maria. Parava com um amigo de infância. Estudávamos à noite e era comum, após o almoço, tomarmos sol.

Em frente, largo e velho edifício mesmo durante o dia parecia aprisionar sonhos, amores desfeitos e velhos fantasmas. Tinha de belo enorme terraço, onde comumente algumas garotas nos espreitavam. E eram espreitadas. Tínhamos um bom porte, éramos apessoados, vestíamo-nos com apuro e, querendo ou não, despertávamos a atenção. Olhos verdes sempre atraiam as mulheres. Ambos tínhamos. Após tantos olhares, acabamos nos aproximando.

Entre tantas, uma loira vistosa, excessivamente feminina, sorriso tímido, chamou-me a atenção. Tudo nela resplandecia, mas namorava um pretenso farmacêutico e havia compromisso maior. Augusta, esse era seu nome, tão belo como ela.

Tornei-me seu amigo, bem como do pretendente. Íamos a bailes frequentemente. Augusta e eu, bons amigos, às vezes sugeríamos a troca de par e perdíamo-nos salão à dentro. Sem qualquer outra intenção.

Certa feita houve uma mudança gratificante: Augusta fora morar com a amiga de infância que firmara namoro com meu amigo também de infância. O tempo transcorria sem anormalidades, no seu ritmo tranqüilo. Os pássaros se amavam pela manhã e à noite trilhávamos pelas mesmas calçadas, nunca quebrando o mesmo ritmo e a mesma freqüência.

Em abril desse mesmo 1967 recebi um convite para estudar junto com Augusta para vestibular. O tempo urdia alguma coisa, mas não depreendia, nem imaginava o que.
De abril a 16 de dezembro tudo teria a mesma rotina. Fui pela manhã cumprimenta-la pelo aniversário. Ela ganhara um toca discos - comum na época - e também uma conta na Livraria do Globo. Ela quis inverter os papéis e presentear-me, mas me antecedi e numa garoa refrescante convidei-a a irmos a uma loja de Discos. Gostamos de um Compacto de Pino Donagio, faixa “Io che non vivo senza te”.

Fui para casa e à noite retornei para o nosso estudo costumeiro. Perguntei-lhe se gostaria de jantar fora. Não aceitou. Iniciamos a estudar Física. Ela interrompeu, convidando-me a ouvir música. O clima era inebriante e a noite calma. Uma brisa suave adentrava pela porta larga do apartamento. Na rua um alarido de gente. Perguntou-me se poderíamos dançar.

Dançamos e envolvidos pela sonoridade musical transportamo-nos não sei para onde. Unimo-nos num toque de mágica por um inebriante e prolongado beijo. Quando ela se recompôs fez-me ir embora, pois eu acabara de destruir uma amizade. Até anuí. Nascia naquele momento um perene e imorredouro amor.

Fui imitando Carlitos. Ao caminhar quem me visse saberia que o amor me fez e faria profundamente feliz. Fiquei do dia 17, porque passava da uma da manhã, até 22 sem vê-la.

Chamou-me no dia 23 e comecei a ser ostensivo tentando por qualquer ou todo motivo enlaçar suas mãos e virar seu rosto para que mergulhasse meus olhos nos seus.
Dia 24 quando lá cheguei disseram-me que o farmacêutico se apresentara com alianças e anel. Escondido, chamei sua amiga e pedi que colocasse um fundo musical, pois o noivado requeria. Seria minha chance: ganhar ou perder!

Não houve noivado algum, nossa música calara fundo. Ela já era totalmente minha. Meu amor vencera. Eu era o homem mais feliz. Cobri-a de beijos. Nunca um amor foi tão doce e com tamanha intensidade. Vivemos momentos grandiosos, um amor irrestrito e profundo. Sempre presença, sempre alegria, esperança de regresso. Era longe e remota uma separação. Tínhamos tudo para amar, sorrir e construir.

Falávamos em uma vida nossa. Queríamos e pensávamos nisso. Se falávamos em sonhos - e muitos eram nossos - era porque nos imaginávamos lado a lado, alegres, extremamente radiosos. Tudo transcorreu diferente.

Dadas circunstâncias adversas, nos separamos algum tempo depois. Diante de uma perda familiar irreparável, fiquei desnorteado e rompi sem maiores explicações. Não poderia retroceder, não por motivo tão complexo. Apesar de tudo, pelas ruas nos cruzávamos e havia todo o imenso amor em nossos olhares.

Em fevereiro de 1968 conheci outra pessoa, na praia. Era linda, atraente. Até maio ficamos juntos. Voltando a Santa Maria, Augusta cruzava por meu caminho. Desta feita com um veterinário, mas não tirava os olhos de mim. Resolvi desfazer meu compromisso com a pessoa de fevereiro e retornei aos seus braços, retomando-a com o maior amor.

Ficamos três anos juntos e chegou um tempo que algo nos dizia que mesmo separados e nos amando, teríamos que cumprir nossas missões com outras pessoas com as quais tínhamos dívidas pretéritas.

Por amor às criaturas que abraçaríamos, doamos nossos corpos, mas só envolvemos nossas almas em duas circunstâncias especiais: quando nossos filhos vieram para nós. Por coincidência, sabíamos a data e o sexo. Assim foi. Tanto eu quanto ela estagiamos com pessoas que não nos tiveram por inteiro. Sempre fui dela, ela sempre foi minha.

Estamos hoje conscientes, longe um do outro. Aprendemos a viver de nossas doces lembranças. Nossas necessidades esporadicamente são reabastecidas, são preenchidas. Sinto o que ela pensa, ela pensa o que eu sinto. No nosso silêncio, na nossa distância são transmitidas muitas coisas. As coisas que não nos falamos nem precisamos nos falar. Para saber o que pensamos há muita, muita sintonia.

Há algo bem maior a nos unir que não se destrói nem se mede. Somos dois num único ser. Mesmo separados, somos indivisíveis. Acreditamos imensamente um no outro. Nosso amor espera e não cabe em palavras. Sempre estamos em busca de nossas esperanças. Nossa bagagem tem um misto de sonho e de eternas recordações. Há uma imensa saudade. Há um silêncio de um passado presente. Lembro de seu sorriso franco, suas mãos de imensa ternura e aquela ânsia do novo reencontro. Não houve aceno de quem partiu. Quem ama, sempre está indo um ao encontro do outro. Sombras não se apagam como quem apaga uma luz. Não havia sombras entre nós. Quem foi feito de flor e vida, da mansa ternura, sempre será perene.
Podem nossos olhos perolar-se de lágrimas, mas mesmo separados nosso amor não morrerá jamais. Somos felizes como no nosso tempo antigo, quando tínhamos sonhos e longos silêncios. Quando as noites eram velhas amigas e quando tínhamos risos claros de felicidade. Enfim, quando Augusta era tudo o que eu queria.

Sua presença era um universo. Sua distância, por menor que fosse, era uma saudade e o tempo era medido no antes e depois de nossos encontros.

Sempre espero a resposta da sua voz, sua presença doce e frágil, mas indispensável. Ainda penso nela quando vejo o mundo envolvido a um fim. Penso nela quando as pessoas vão tecendo vida, nestas ruas todas. Penso nela quando vejo crianças ou quando não as vejo, pois ela é o amor e a negação das crianças. Penso nela quando vejo pares de namorados em passeios lentos e longos. Penso nela, pois ela é eternamente jovem e doce. Penso nela, quando penso, sempre que penso, penso sempre.

O caminho que hoje trilho vence olhares que gostariam de ficar, calando palavras e gestos que teimam em permanecer comigo. Aquele caminho que me fez AMOR DISTANTE um dia me fará espero, próximo dela. Os meus gestos de adeus serão acenos de quem após longa espera, celebrará o cerimonial de regresso. Será espera eterna de poucas horas que terá fim um dia.

Do silêncio da noite e das sombras virá à hora dos pássaros que amanhecerão nossos caminhos. Dos horizontes nascerão as rosas que ao sol serão poemas vivos. De mãos dadas vamos percorrer nosso universo de amor e de paz.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Sentimento Profundo

Tinha necessidade do calor da tua presença
Tenho saudades daquela atmosfera de amor,
Misturada a tristeza de tever partir...
Então ,
Vi-me só nas paredes do quarto,
cujas paredes me ignoravam
sofrendo ou feliz.
E lá fora ,um céu
misturado de estrelas
me esperava,
para levar meus passos ao acaso,
mais uma vez ,
sem para que,
só.